Desenvolvimento Territorial e Ligação à Academia 2030

No âmbito da Sessão Solene Comemorativa do Dia do IPS, a realizar-se no dia 7 de outubro de 2025, pelas 15h00, tem lugar um painel de discussão dedicado ao tema “Desenvolvimento territorial e ligação à Academia no Horizonte 2030”.

Nesta sessão vão ser apresentados os resultados da iniciativa «Vamos Pensar o Território», que, em julho de 2025, reuniu cerca de 80 participantes num exercício coletivo de reflexão sobre o futuro do território.

Através de cinco sessões temáticas em formato focus group dedicadas à Cultura, Economia, Educação, SaúdeTecnologia, foi possível criar um espaço de auscultação e diálogo, promovendo a partilha de desafios, ideias e visões entre diferentes parceiros.

O objetivo central desta iniciativa é contribuir para a construção de um ecossistema de colaboração, onde agentes académicos, institucionais, empresariais e sociais cocriam soluções inovadoras para os desafios da região — da investigação à sustentabilidade, passando pela inovação e pelo desenvolvimento empresarial.

Cultura, Diversidade e Identidade

Para além de um centro de formação, o IPS é percebido pelas instituições culturais destes territórios também como um parceiro próximo em diversas iniciativas.

Dos estágios curriculares às visitas de estudo, passando pelas ações de voluntariado, seminários e exposições acolhidas, é palpável a importância crescente da ligação entre estudantes e comunidade. É reconhecido, no entanto, que essa ponte é mais visível nos concelhos próximos de Setúbal do que nos do Alentejo Litoral.

Aponta-se como grande desafio a necessidade de aprofundar o papel do IPS na área cultural, com mais projetos estruturados e não apenas ações pontuais. E de cativar estudantes para iniciativas do calendário cultural local, inclusivamente mediante a atribuição de créditos, tendo em conta o potencial de complementaridade destas experiências com a formação académica.

Outras das necessidades identificadas prende-se com a afirmação de uma identidade regional mais coesa, tirando o devido partido de recursos chave como a multiculturalidade das populações e a riqueza natural do mar, dos rios Tejo e Sado, e das serras da Arrábida e de Grândola.   

Quanto a oportunidades, propõe-se um maior envolvimento dos estudantes em workshops, espetáculos e residências artísticas, além do estabelecimento de parcerias para exposições conjuntas e a participação de artistas locais nos eventos do IPS, com reforço da ligação da instituição às dinâmicas culturais.

O IPS deve também apostar na criação de novas ofertas formativas nas áreas da Cultura e das Artes como caminho para valorizar a identidade regional e atrair mais estudantes e investigadores.

Até 2030, o IPS pode e deve assumir um papel mais forte na dinamização cultural e na valorização da identidade regional, cooperando de forma ativa e integrada com o território.

Economia, Negócios e Empregabilidade

A Península de Setúbal e o Alentejo Litoral são reconhecidamente territórios de grande potencial, diversidade e dinamismo, com um futuro fortemente marcado pela indústria, pelo turismo e pela sustentabilidade.

O IPS surge neste cenário como um ator cada vez mais relevante, mas que ainda não ocupa o papel central que poderia ter na articulação entre entidades e na definição estratégica do desenvolvimento regional.

Entre os principais desafios, destaca-se a necessidade de maior integração territorial, já que a presença do IPS é reconhecida sobretudo em Setúbal e Barreiro, mas menos noutras áreas do distrito.

Outro desafio é o de acompanhar a profunda transformação económica prevista, perante grandes investimentos industriais, logísticos e turísticos, o que exige mão de obra altamente qualificada e novas respostas formativas.

Finalmente, coloca-se o desafio da própria identidade institucional: o IPS deve reforçar a sua projeção para além de uma perceção limitada de politécnico, afirmando-se pela competência, dinamismo e proximidade às empresas e comunidades.

Ao mesmo tempo, surgem oportunidades claras. O IPS tem vindo a ganhar visibilidade e a ser procurado como parceiro para resolver problemas concretos, e a plataforma “Dinamiza” pode consolidar esse papel de mediador entre diferentes atores da região.

A sua intervenção em domínios como sustentabilidade, economia azul, digitalização e inovação industrial posiciona-o como ponte essencial entre investigação, formação e empregabilidade. A aposta em formação contínua, dirigida às necessidades específicas das micro e pequenas empresas, dos municípios e dos setores emergentes, é outro caminho de futuro.

Em suma, a cooperação entre instituições, empresas e comunidades, com o IPS como eixo articulador, será decisiva para transformar este potencial num verdadeiro motor de desenvolvimento.

Educação para o Futuro

A Península de Setúbal e o Alentejo Litoral são territórios de contrastes: beleza natural e qualidade de vida convivem com preocupações estruturais persistentes que pedem novas formas de pensar o desenvolvimento. É clara a necessidade de apostar em modelos mais sustentáveis, inclusivos e qualitativos, rompendo com paradigmas repetitivos.

Neste contexto, o IPS é visto como uma instituição dinâmica e acessível, que se afirmou na última década como verdadeiro parceiro estratégico da região, uma espécie de “farol”, capaz de orientar, gerar conhecimento e impulsionar transformação.

A sua proximidade às empresas, autarquias e escolas é amplamente valorizada, sobretudo pela aposta em conhecimento aplicado e formação prática.

Simultaneamente, tem atuado como motor de desenvolvimento regional, agregando parceiros e criando soluções para problemas concretos.

Entre os desafios em cima da mesa, é impossível contornar o impacto da inteligência artificial na empregabilidade, em particular na área da programação, e a urgência de repensar currículos e métodos pedagógicos no sentido de reforçar competências transversais, pensamento crítico e ligação prática ao mercado de trabalho.

Do lado das oportunidades, surge com evidência a colaboração estratégica entre o IPS e a ETLA – Escola Tecnológica do Litoral Alentejano no desenvolvimento de um novo campus partilhado, em Sines, com foco em formações técnicas e superiores ligadas a infraestruturas críticas, como centros de dados, hospitais e portos.

O turismo, especialmente o de luxo na Comporta e em Troia, surge como setor em expansão, ao qual o IPS deve responder com formação diferenciadora. Cursos como o de Automação, Controlo e Instrumentação têm mostrado o caminho de uma identidade própria, alinhada com as necessidades da região, neste caso da indústria.

Em síntese, o IPS deve continuar a afirmar-se como elo entre academia e território, apostando em educação aplicada e parcerias estratégicas, para consolidar um futuro sustentável e inclusivo.

Saúde, Bem-Estar e Qualidade de Vida

Territórios de grande potencial, a Península de Setúbal e o Alentejo Litoral apresentam-se como “multidesafiantes”, exigindo estratégias integradas para responder às necessidades da população. Entre essas necessidades, a saúde surge como prioridade central, dado o seu impacto direto na qualidade de vida e na capacidade de fixar pessoas na região.

Os desafios são claros: falta uma estratégia comum entre os municípios; é difícil atrair e reter profissionais de saúde; não existe uma visão integrada que ligue habitação, trabalho e bem-estar.

Outro ponto crítico é a literacia em saúde. Apesar de existirem iniciativas locais, a sua dispersão impede que tenham impacto duradouro. É urgente trabalhar desde a infância, nas escolas e nas comunidades, criando programas articulados que cheguem a todas as faixas etárias e promovam comportamentos de prevenção e cuidado.

Simultaneamente, surgem oportunidades importantes. O IPS, através da sua ligação à comunidade e como membro do Centro de Investigação em Qualidade de Vida (CIEQV), pode assumir um papel decisivo neste caminho. A produção de conhecimento aplicado ao território, através de observatórios e projetos de investigação, pode dar aos decisores dados concretos para orientar políticas e estratégias de saúde. Essa proximidade com a realidade local, aliada à formação de profissionais de saúde altamente qualificados e reputados, coloca o IPS numa posição única para integrar esforços, articular entidades e transformar conhecimento em soluções práticas.

Conclui-se, por isso, que cooperação entre o IPS, as autarquias e os agentes de saúde será fundamental para promover a qualidade de vida, reduzir desigualdades e consolidar o território como exemplo de resiliência e inovação.

Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento

É evidente o papel relevante das tecnologias e da inovação no desenvolvimento do território e o IPS posiciona-se como um motor decisivo neste processo, enquanto centro produtor de conhecimento ao serviço das empresas, organizações e poder local.

Entre os desafios centrais, identifica-se desde logo a necessidade de promover uma inovação que vá além da resposta imediata aos problemas do dia-a-dia e que seja verdadeiramente transformadora, capaz de mudar comportamentos e criar novas formas de pensar o território.

Em segundo lugar, a forte pressão da transição energética e digital, que exige técnicos altamente qualificados e ecossistemas de formação articulados com as necessidades das empresas e das comunidades locais.

Por fim, a fragmentação territorial, que continua a ser um obstáculo, exigindo uma visão integrada que una indústrias, portos, turismo e recursos naturais.

Este contexto oferece também várias oportunidades. O IPS já é visto como uma instituição próxima das empresas, alternativa à oferta de ensino universitário na vizinha Lisboa, e deve reforçar esse papel de ligação ao tecido económico e social.

O seu envolvimento na Aliança Universitária Europeia E³UDRES² e a sua parceria  com a China na área da Indústria 4.0, abrem caminho a estratégias conjuntas com impacto regional e internacional, potenciando a partilha de soluções e boas práticas.

Além disso, o desenvolvimento de ecossistemas de investigação e inovação pode criar novas respostas para a transição energética, para a valorização dos recursos humanos e para o posicionamento da região como território de oportunidades.

Projetar esta região e o seu desenvolvimento até 2030 é um trabalho que só poderá resultar da cooperação efetiva, no pensamento e na ação, entre comunidades, empresas e Ensino Superior, aqui representado por um Politécnico de Setúbal interventivo, parceiro e agregador.