Novo teste na área da fala: Entrevista com Investigadora
Uma equipa de investigação, da qual a investigadora responsável é a Prof.ª Doutora Ana Mendes, docente na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Setúbal (ESS/IPS), desenvolveu um instrumento que permite avaliar as capacidades linguísticas das crianças, dos três aos seis anos de idade, nas áreas da semântica, morfossintaxe e fonologia, identificando problemas que podem afetar o desempenho escolar e a vida social dos alunos.
O TL-ALPE (Teste de Linguagem – Avaliação de Linguagem Pré-Escolar) é composto por um livro de imagens, uma coleção de objetos, um manual de instruções e uma folha de registo, que ao serem utilizados, segundo as instruções do terapeuta, estimulam respostas verbais na criança, através das quais é realizada uma avaliação e se detetam possíveis perturbações na linguagem.
| ##4## | – Como se iniciou este projeto de investigação? Em que altura surgiu a ideia de criar o TL-ALPE (Teste de Linguagem – Avaliação de Linguagem Pré-Escolar)?
O projeto de investigação surgiu em 2003, pela necessidade de existir um instrumento que avaliasse e medisse, com validade e fiabilidade, a linguagem de crianças falantes do Português-Europeu, em idade pré-escolar, e que identificasse aquelas que se encontram em risco de problemas de linguagem. Neste âmbito foi criado o instrumento “Avaliação de Linguagem Pré-Escolar – ALPE”, que é constituído por dois testes: o Teste Fonético-Fonológico (TFF-ALPE), que avalia a articulação dos sons da fala (que saiu em 2009 e 2013), e o Teste de Linguagem (TL-ALPE), que avalia a compreensão e expressão verbal (que saiu em 2014). |
– Porquê a decisão de criar um instrumento que incide especificamente na faixa etária dos 3 aos 6 de idade?
A decisão surgiu porque o desenvolvimento da linguagem tem o seu pico entre os 3 e os 6 anos (i.e., idade pré-escolar), e consiste num pré-requisito vital para o desenvolvimento de literacia. Atualmente, em Portugal, a maioria das crianças com problemas de linguagem são sinalizadas aquando da sua entrada no ensino primário obrigatório, i.e., na melhor das hipóteses, aos 6 anos, e iniciam a terapia da fala entre os 6 e os 7 anos. Além do seu problema de linguagem ter sido diagnosticado tardiamente, este tem impacto no desenvolvimento de literacia ao longo do seu percurso no ensino primário e, possivelmente, secundário.
– O TL-ALPE permite traçar um plano terapêutico?
O TL-ALPE permite uma análise quantitativa e qualitativa do desenvolvimento linguístico da criança. Na análise quantitativa, podemos comparar as cotações com as médias e desvios-padrão esperados para o sexo e a idade. Na análise qualitativa do TL-ALPE permite traçar o perfil linguístico de cada criança, identificando os aspetos fortes e fracos das competências de compreensão auditiva e expressão verbal oral nos diferentes domínios de semântica, morfologia e sintaxe. Permite, assim, desenhar um plano terapêutico personalizado, de acordo com o perfil linguístico de cada criança no momento da avaliação.
– No decorrer da investigação, quais foram os principais problemas manifestados pela amostra em estudo?
Para a amostra em estudo houve uma participação voluntária e motivada de 43 terapeutas da fala a recolher dados em Portugal Continental e Insular. As dificuldades estiveram relacionadas com a restrição em termos de horários anuais e diários das instituições escolares envolventes, que era necessário respeitar. As atividades natalícias, carnavais, pascais, balneares, etc., assim como os períodos de descanso pós-almoço das crianças, faziam com que o tempo de recolha de dados fosse restrito. Mas com a gestão, coordenação e boa vontade de todos os envolventes, pais inclusive, conseguimos chegar a uma amostra representativa de 817 crianças. Mas a maior dificuldade foi co
