Os mensageiros da comunidade surda em tempos de pandemia – IPS – Instituto Politécnico de Setubal
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Os mensageiros da comunidade surda em tempos de pandemia

Passaram a ser presença diária nos ecrãs televisivos, dividindo o mesmo plano com a
diretora-geral e a ministra da Saúde, nas conferências de imprensa sobre a COVID-19.
Graças a estes dois intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP) licenciados pela
ESE/IPS, pioneira nesta área há 22 anos, a comunidade surda pode ter acesso, em tempo
real, à informação crucial que chega aos ouvintes sem obstáculos. Em plena crise sanitária,
o que mudou foi o contexto, não o espírito de missão, confessam Luís e Sofia, que dão
conta de um longo caminho ainda a percorrer para garantir a plena cidadania das pessoas
surdas em matéria de acesso à informação. 

 

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O vosso papel tem sido fundamental para que a comunidade surda se
mantenha informada sobre a evolução da pandemia de Covid-19 no País e respetivas
medidas a observar para conter o contágio. Como reagem a esta responsabilidade e como
tem ela alterado as vossas vidas?

Luís Oriola (LO): Apesar das circunstâncias que nos preocupam a
todos, o trabalho propriamente dito tenho encarado com a naturalidade normal de quem
tem como atividade profissional assegurar interpretação para LGP entre pessoas surdas e
pessoas ouvintes em múltiplos contextos.

Sofia Figueiredo (SF): Assumimos esta responsabilidade com o
espírito de missão e o profissionalismo habituais. Assegurar o acesso a informação em LGP
é uma das funções que já exercíamos anteriormente, ainda que fora do atual contexto
trágico desta pandemia. Porventura poderá parecer que a informação sobre a COVID-19, e
as suas implicações não apenas sanitárias, se encontra totalmente acessível em LGP.
Contudo e infelizmente, apenas têm sido interpretadas, desde 12 de março, as conferências
de imprensa diárias da Saúde, uma ou outra das áreas da Economia e das Finanças, e as do
Conselho de Ministros, que já assegurávamos desde 2019. É preocupante que as pessoas
surdas continuem sem total acesso informativo, também sobre a situação pandémica, quer
por inexistência de LGP, quer de legendagem em Português.

 

Qual tem sido o retorno da comunidade surda àqueles que com ela
comunicam, em direto, todos os dias?

LO: O retorno é positivo, especialmente porque ainda há muito
pouca informação acessível aos surdos, o que faz com que, sempre que haja, seja algo
facilmente observado.

SF:O retorno sobre o nosso trabalho tem sido constante e positivo,
as pessoas surdas têm acompanhado e comentado a informação diária que tem sido
disponibilizada de forma acessível, nomeadamente quando a interpretação de LGP surge em
maior escala. No entanto, as pessoas surdas têm referido que a acessibilidade ainda é
pouca ou mesmo inexistente, designadamente em momentos de comunicações ao país por
parte da Presidência da República, em que ora surge uma pequena janela de interpretação
de LGP, ou esta não existe de todo. E no caso das comunicações relativas à Proteção Civil,
que não são acessíveis por LGP.

 

Atrás das câmaras, há muito trabalho de casa a fazer, nomeadamente no que
toca a termos técnicos que não faziam parte do léxico do cidadão comum? Como preparam
o acompanhamento das conferências de imprensa?
 

LO: Nós, como qualquer outro intérprete de LGP, devemos fazer
essa preparação prévia, por via dos materiais e/ou discursos que possam ser
disponibilizados, procurando apoio no seio da comunidade surda, que nos dá o suporte para
estabilizar novos gestos para novos significados que vão surgindo.

SF: Como em qualquer língua surgem sempre novos vocábulos e
diferentes formas e técnicas de interpretação. Temos

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