
Sampaio da Nóvoa defende maior “centralidade” dos professores no processo educativo e de formação
- Categorias Conferências, Cooperação, Educação, Internacional, Investigação
- Data 18/09/2025

Educação de Infância reúne no IPS especialistas lusófonos para uma reflexão sobre o impacto do conhecimento, da política e da comunidade
O professor catedrático António Sampaio da Nóvoa defendeu esta terça-feira, no Politécnico de Setúbal (IPS), a urgência de um modelo de escola em que os professores assumam maior “centralidade”, no contexto pedagógico e na formação de outros profissionais da educação, propondo o que definiu como “3.ª revolução na formação de professores”.
O reitor honorário da Universidade de Lisboa falava na sessão de abertura do VIII Seminário Luso-Brasileiro de Educação de Infância e do IV Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Infâncias e Educação, que está a decorrer até amanhã na Escola Superior de Educação (ESE/IPS), reunindo cerca de 120 participantes, provenientes de diversas instituições de Ensino Superior, centros de investigação e organizações da sociedade civil de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe.
Perante este auditório intercontinental de investigadores, estudantes, professores e educadores, António Sampaio da Nóvoa denunciou que “o espaço vital de ação dos professores tem vindo a ser diminuído, de forma muito evidente, ao longo das últimas três décadas”, não só pelo declínio do estatuto socioprofissional, como também devido à “entrada em força nas escolas das tecnologias e do digital”. E entre várias propostas e “provocações”, alertou também para o perigo de os profissionais da educação acabarem por transformar-se em “professores micro-ondas, ‘aquecendo’ e ‘servindo’ a pedagogia e os conteúdos preparados por outros”, fruto de uma sobrevalorização das tecnologias.
Por fim, o académico preconizou um modelo educativo assente na “relação humana e no encontro, na cooperação e na solidariedade, o que implica um espaço público comum, a escola, e a intervenção dos professores enquanto mestres”.

Com um programa diversificado de conferências, mesas-redondas, mini-cursos e oficinas, estes encontros resultam de uma organização em parceria com a Universidade do Minho e as universidades brasileiras de São Paulo e Federal de Alagoas (Brasil), escolhendo como tema transversal o impacto do conhecimento, da política e da comunidade na educação das crianças e na formação dos profissionais que as acompanham. A conferência de encerramento, agendada para as 17h00 de amanhã, caberá a Elena Colonna, da ONG CoMeDia (Moçambique), em torno do tema “Entre ciclones e esperança: a educação ambiental reimaginada pelas crianças moçambicanas”.
Como anfitriã, a presidente do IPS, Ângela Lemos, sublinhou “a relevância destes encontros para a nossa instituição, que se orgulha de ter, desde o início, centrado a sua missão na formação de educadores de infância”. “A infância é uma etapa primordial da vida de qualquer ser humano, e a ESE/IPS é profundamente consciente da responsabilidade de formar profissionais com ética e rigor”, prosseguiu, lembrando o “contexto global complexo” em que esta reflexão tem lugar, marcado por guerras e crises sociais e climáticas em que, invariavelmente, as crianças são o elo mais fraco.
Refira-se que esta reflexão tem lugar num espaço de forte simbolismo, a ESE/IPS, que celebra 40 anos de existência. Tendo sido criada como projeto político sem edifício próprio, enraizado em valores de democracia participativa e crítica, trata-se de uma escola com um percurso muito ligado às comunidades locais – foi acolhida por autarquias, associações, museus e outros espaços – sendo ela própria um exemplo vivo do papel da comunidade nos processos educativos.

